Os desafios da Volkswagen para superar a Tesla em carros elétricos

A Volkswagen planejou em 2015 um investimento de US $ 50 bilhões para superar a Tesla no segmento de carros elétricos. Os produtos já estão chegando ao mercado, com o ID3 e ID4, mas a montadora californiana ainda lidera em vendas e tecnologia. O que faltou para a Volkswagen?

O Wall Strett Journal publicou um artigo apontando que o ID3 não veio conforme planejado. Ele anda e para, mas a tecnologia sofisticada que a VW prometeu teve que ficar de fora por problemas no software. Segundo o jornal, os programadores ainda não descobriram como atualizar o software do carro remotamente. O head-up display futurista de alta velocidade com informações de realidade aumentada não funciona. Além disso, os primeiros proprietários do ID3 relatam muitos bugs de software.

Os problemas levaram a VW vender o carro sem a carga completa de software, enquanto se aguarda uma atualização futura, que agora está agendada para meados de fevereiro. Após isso, as demais atualizações serão enviadas via Internet (OTA - Over The Air), segundo executivos da Volkswagen.

Há muito havia uma expectativa que quando as grandes empresas automotivas alemãs entrassem no mercado de elétricos, seu poder financeiro e a excelência em engenharia iriam colocar a Tesla em problemas. Mas até agora isso não aconteceu, e segundo analistas relatados pelo WSJ, isso se deve ao fato que produzir carros elétricos é mais uma questão de software do que hardware. E o conhecimento das empresas tradicionais em fabricar carros movidos a gasolina é muito diferente de codificar software.

Segundo o WSJ, os problemas com o ID.3 está aumentando a temperatura na Volkswagen. Herbert Diess, segundo o jornal, quase foi demitido em 2020, pois acionistas da VW não aprovaram o Golf-8, tido como "malfadado lançamento", e consideram o lançamento do ID3 "desastrado". Diess saiu da presidência da marca VW, mas continua CEO do Grupo.

Atualmente o ID3 está melhorando sua performance na Europa, tendo ultrapassado em vendas o Model 3 da Tesla na Europa em Dezembro, em decorrência do fato de ser US $ 12.000 mais barato, e também pelos incentivos da Alemanha em carros elétricos em expansão. Os erros no lançamento do ID3 levam a cuidados adicionais no ID4. Segundo a marca, o ID.4 vai cumprir as promessas do ID3.

Com a mudança para a eletricidade, a computação se tornou o coração do veículo, com um processador central gerenciando a bateria, acionando os motores elétricos, freios, luzes e outros sistemas críticos, bem como recursos adicionais, como entretenimento ou aquecimento nos assentos. Assim como um carro movido a gasolina deveria ser revisado regularmente, um veículo elétrico moderno precisa receber atualizações de software para melhorar a segurança e o desempenho, oferecer novos serviços.

A chave aqui é levar este sistema distribuído para os carros, que a Tesla já faz há muito tempo, mas as empresas tradicionais não têm esse conhecimento. Segundo Danny Shapiro, diretor sênior automotivo da Nvidia, fabricante de chips de carros autônomos, “isso é muito complexo, especialmente com um carro onde o nível de segurança é crítico. Você não pode simplesmente virar um botão e se tornar uma empresa de software.”

No caso da Volkswagen, nos primeiros anos de desenvolvimento do ID3, a tarefa de codificar software para o carro foi espalhadas pela organização. Em 2019, a montadora centralizou tudo com a nomeação de Christian Senger, anteriormente chefe de serviços digitais e produtos de mobilidade elétrica, como líder de todo o desenvolvimento de software da VW. A primeira tarefa do grupo foi criar uma organização coerente a partir de milhares de programadores espalhados pelo grupo e começam a mudar desenvolvimento crítico interno.

Outra fonte de complexidade foi que a VW escolheu diferentes fornecedores para desenvolver diferentes partes de seu ecossistema de software. Para construir sua nuvem industrial para as fábricas, a VW se associou à Amazon Web Services. Para a nuvem de conexão com os carros, ela se juntou a Microsoft. E para um sistema de controle, contratou a Continental.

Essa é uma estratégia de fabricantes de automóveis, mas no caso de software isso não funciona. Assim como um smartphone, o desenvolvimento de um carro elétrico nunca termina, porque ele está em constante evolução e requer fornecedor e o cliente trabalhem de forma interativa, e de forma permanente, diferentemente do que acontece com o sistema de produção de automóveis convencionais, onde as peças são alocadas e não há atualização.

A experiência levou a VW a reformular totalmente a unidade de software da empresa. A comparação do ID3 com o Tesla Model 3 evidencia que o ID3 se destaca em características do velho mundo "espaço e design", enquanto a Tesla vence em questões novas, como autonomia da bateria, e computação avançada. Agora a Volkswagen já está enviando atualizações remotas para os aplicativos de entretenimento, e começando a atualizar também funções núcleo do carro, como o gerenciamento do trem de força elétrico.

A VW pretende agora centralizar ainda mais o desenvolvimento do software, em um movimento contrário à estratégia tradicional de deixar o software com fornecedores. No segmento de carros elétricos, a montadora precisa ter controle total do software. Mas isso demanda profundo conhecimento técnico em software que as montadoras não tem.

Mas o processo está em curso. A Volkswagen está demolindo seu processo de desenvolvimento convencional de automóveis, para um modelo mais parecido com as empresas do Vale do Silício. E esta é a parte mais difícil. Segundo o CEO da VW, essa transformação levará cerca de 10 anos, conforme post no LinkedIn. “Com ou sem Volkswagen.”

Fonte: WSJ