VW Golf tem futuro ameaçado por eletrificação e SUVs

O Volkswagen Golf é um dos carros de maior sucesso da indústria automotiva global. Desde sua primeira geração, lançada em 1974, já foram vendidos mais de 35 milhões de unidades. Apesar desse sucesso, seu futuro nunca esteve tão em questionamentos quanto agora.

A questão de fundo é o processo de eletrificação dos automóveis na Europa. A Volkswagen está construindo uma arquitetura dedicada elétrica que que custa mais de 6 bilhões de Euros. E está financiando esse investimento com os lucros vindos de carros de alta margem de lucratividade como o Tiguan e o T-Cross.

O Golf, portanto, está sendo pressionado por dois grandes segmentos de mercado em expansão: SUV´s de um lado, e elétricos de outro, não tendo muito espaço para crescer.

Em 2019 foram vendidos 410.779 Golf na Europa - número que cresce para 454.000 se colocar o Sportvan na conta. É mais que 3 vezes seu principal concorrente - o Focus. E sozinho vende mais que marcas inteiras na Europa como Nissan, Volvo e Land Rover.

O novo Golf 8 começa a chegar aos revendedores na Europa nas próximas semanas, e deve se tornar novamente o benchmark do segmento em termos de baixa emissão de CO2, conforto, qualidade construtiva e conectividade. Haverá 2 versões de motorização mild-hybrid de 48V, duas variantes GTE Plug-In Hybrid. E os modelos diesel adotam novas tecnologias que reduzem as emissões de Nox em até 80%. Ainda este ano chegam à Europa as versões GTD, GTI e R.

O novo Golf 8 é o carro mais avançado tecnologicamente da história da Volkswagen. Seu cockpit totalmente digital pode ser atualizado por meio de atualizações que chegam via uma conectividade 4G embutida no carro - que é de série em todas as versões. E que permite ainda comunicação com outros carros e com a infraestrutura em um raio de 800 metros.

Com tais recursos, a Volkswagen pretende transformar o Golf em uma espécie de shopping-center virtual, que pode vender, por exemplo, a ativação de uma nova funcionalidade de um piloto automático, apenas durante uma uma viagem. São os opcionais "sob demanda" que tornam o carro atualizável.

O Golf é um carro perfeito para esse novo modelo de negócios porque ele vende muito. Em média, a cada 45 segundos, um novo Golf é vendido, o que o tornará um dos mais revelantes veículos digitais. O Golf 8 tem centenas de milhões de linhas de código de programação em seus sistemas - um número comparável ao que está dentro de um Airbus 320.

Sinais de retração

Há, porém, sinais de que o Golf pode estar em decadência. O pico de vendas do Golf foi em 2016, com mais de 1,06 milhões de unidades vendidas mundialmente, duas vezes mais que o Tiguan - o melhor SUV da época.

Mas o Tiguan está em curso para se tornar o mais vendido modelo da marca, já que sua produção está se expandindo para inúmeras plantas da marca em âmbito global. Enquanto isso o Golf deixou de ser produzido na América, e terá sua produção concentrada a Alemanha, e na China,
pela FAW-VW.

Analistas de mercado projetam que o novo Golf 8 deve atingir um pico de vendas de 630.000 unidades em 2021 - o que já será uma queda frente aos 702.000 Golfs vendidos em 2019. Para todo o ciclo de vida do Golf 8, projeta-se vendas em torno de 4,5 milhões de unidades - cerca de 1 milhão a menos que a geração 7.

Haverá um Golf 9?

Hoje não existe garantia de que o Mk8 não será o último Golf. A decisão da Volkswagen, de 2015, de criar a plataforma elétrica MBE, pode ter selado o destino do Golf.

A VW não planeja um sucessor do e-Golf. Essa versão não estará presente no line-up da gama 2020 do hatch. A engenharia da marca considera que uma plataforma híbrida, que permite carros a combustão e elétricos é ineficiente. Com o ID.3 partiram para um conceito exclusivamente elétrico, sem as limitações de um projeto que tem que atender a requisitos de dois tipos de motor (combustão e elétrico), e produziram um carro totalmente novo, que é o ID.3, bem mais eficiente em termos de espaço e de energia.

E é exatamente o ID.3 que pode ofuscar o Golf, já que é um projeto bem mais moderno, livre das amarras e limitações dos motores a combustão, e preparado para implantar um novo tipo de realidade aumentada.

Segundo Silke Bangchik, diretor de vendas de carros elétricos da VW, o "ID.3 é compacto como um Golf, ágil como um Up!, oferece espaço de um Passat, e performance de um Golf GTI".



Jurgen Stackman, diretor de vendas mundial da Volkswagen, porém, garante a continuidade do Golf. Para este executivo, mesmo com a demanda menor por esses modelos, ele cobre qualquer aposta que o sucessor do Golf 8 terá seu projeto aprovado em 2023. Isso porque nenhum outro modelo simboliza mais o DNA da marca e a qualidade da força de trabalho da Alemanha que o Golf.

Ele aponta que o "Tiguan é naturalmente importante", mas se perguntar para qualquer pessoa do time da Volkswagen em qual modelo eles investiriam sua vida, esse modelo é o Golf".

Fonte: Auto News Europe - Magazine