Fiat Bravo: vendas baixas, desvalorização alta

O Fiat Bravo foi lançado no Brasil em 2010, com três anos de atraso em relação à Europa, trazendo um estilo considerado bonito, painel interessante, mecânica (motor) atualizada e acabamento interno de boa qualidade. Apesar disso, suas vendas sequer chegaram a superar seu predecessor, o Stilo, que, à época do seu lançamento, conseguiu, em alguns poucos momentos, superar o VW Golf em vendas. O Bravo nem isso, visto que vem tomando uma surra homérica do VW Golf em vendas desde que foi lançado. 

A questão que se coloca é: por qual motivo o Bravo tem um desempenho de mercado tão fraco? A resposta pode estar em um conjunto de fatores que vão do estilo, passando por problemas técnicos, deficiências de ordem mecânica e a tradicional desconfiança com relação aos produtos da Fiat que não são populares.

Estilo anódino

O Fiat Bravo tem um estilo que de "bravo" e agressivo não tem nada. A traseira, vendida pela Fiat como "inovadora", por contar com lanternas "tridimensionais", na realidade é o ponto mais problemático do desenho. Além de não ter um desenho agressivo, peca por ser excessivamente anódina, e sem personalidade.

A Fiat talvez tenha optado por um visual com linhas mais limpas visando uma maior perenidade do desenho, mas o fato é que o estilo do Bravo pode não ser feio, mas está longe de causar impacto, não tem identidade nenhuma e é passível de ser confundido até com um carro chinês. Com isso, o design não provoca uma reação emocional que leve o consumidor a desejar o carro.

Problemas crônicos

Se o estilo não ajuda, o Fiat Bravo tem apresentado problemas técnicos. Conforme mostra a reportagem da Revista Quatro Rodas, proprietários do Bravo enfrentam problemas no motor - que apaga sem aviso -, na direção elétrica - que deixa funcionar, no airbag - cujas luzes de não funcionamento insistem em ficar acesas, além de falhas eletrônicas e relatos de apagões do sistema elétrico.

Esses apagões, por sinal, são graves, pois fazem o carro falhar em situações como, por exemplo, uma ultrapassagem. Segundo o relato de um proprietário na reportagem acima citada, o seu Bravo resolveu ter um "apagão" quando ele ultrapassava um caminhão a 100 km/h.

Mecânica

Outro ponto negativo do Bravo é com relação ao câmbio automatizado Dualogic, caixa que se notabiliza por seus trancos nas trocas de marchas. Além disso, o software de gerenciamento da transmissão aparentemente tem problemas, tornando frequentes situações nas quais  o câmbio demora para decidir qual marcha engatar, e, quando decide, engata a marcha errada, por exemplo, em subidas íngremes, acionando a 2ª, no lugar da 1º.

É verdade que com a linha 2013 a Fiat lançou uma versão aperfeiçoada do Dualogic, chamada de Dualogic Plus, que procura corrigir os defeitos da transmissão original. De fato, ocorreu uma melhora, mas o câmbio automatizado ainda está longe de poder ser considerado suave.

Um carro do porte do Bravo não deveria adotar esse tipo de solução de câmbio automatizado mono-embreagem - caixa destinada a veículos de entrada. O correto seria uma transmissão automática convencional, ou uma automatizada de dupla embreagem, como a presente no Fiesta.

A confirmação da regra

A Fiat tem um histórico não muito favorável favorável quando se trata de carros não populares. Diversos de seus modelos ficaram marcados como carros problemáticos, como Tipo e o Marea. O Bravo parece que quer confirmar essa regra.

Desvalorização

O resultado fica refletido nas curvas declinantes de vendas, com o modelo vendendo menos até que o Peugeot 308 - carro que está longe de ser um best-seller, o que resulta em baixa liquidez no mercado de usados e elevada desvalorização.

Um Bravo Dualogic Absolute tem preço 0KM estipulado em R$ 62.530, sendo que o mesmo carro, semi-novo, 2012, é vendido com preço médio de R$ 51.500 reais, o que resulta em uma taxa de desvalorização anual de 17,6% - bem superior ao de carros do mesmo segmento, como o Golf, da VW, com desvalorização anual em torno de 14%.

Conclusão

A Fiat ainda não conseguiu acertar um produto nem no segmento de sedãs médios (exceto o Tempra, que teve relativo sucesso), e tampouco no de hatchs médios. Para conseguir isso, será necessário um produto melhor que seus concorrentes, por um preço mais baixo - algo que não se viu até o momento.