A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulga em São Paulo os números do mercado brasileiro. Nos sete primeiros meses do ano 2000, as vendas de automóveis já acumulam uma alta de 8%, e entre os mais vendidos, o Uno Mille recebe grande destaque, com um crescimento de 40% em relação ao período de janeiro a julho de 1999. Um resultado que coloca o modelo na posição de terceiro carro mais vendido no mercado brasileiro, um grande fenômeno do setor automobilístico brasileiro, que no próximo dia 27 completa 10 anos de sucesso e evolução.

Fiat Uno Mille 1990

São mais de 50 mil Mille vendidos entre janeiro e julho deste ano, que somados aos resultados desde agosto de 1990, deixa o modelo com a invejável marca de 1,2 milhão de unidades comercializadas na década, e dá à Fiat Automóveis a posição de grande líder do mercado de carros 1.0. Ao somar com os 707 mil Palio 1.0 vendidos desde o seu lançamento, em junho de 1996, a montadora acumula na “Década do Carro Mil” 41% de participação, 500 mil unidades à frente do segundo colocado .

Fiat Uno Mille 1990

Nesta década de existência, o automóvel pequeno - por fora - e grande - por dentro - foi o precursor do carro popular, que o governo tornaria oficial em 1993. Foi o introdutor de importantes mudanças no conceito de carro pequeno, provando que era possível produzir veículos de preço adequado para o consumidor sem abrir mão da tecnologia, do conforto, da economia e do espaço. Mais: comprovou a viabilidade da oferta de acessórios até então destinados a carros médios e grandes, como ar-condicionado, vidros e travas elétricas das portas, por exemplo, para automóveis pequenos.

Fiat Uno Mille 1993

Ao chegar no mercado, o primeiro carro mil do País provocou tal virada no setor automobilístico brasileiro, com tamanho sucesso junto aos consumidores – devido ao seu baixo preço e adequada relação custo-benefício – que mudou as projeções de crescimento da indústria automotiva nacional. A demanda prevista pelos melhores estudos das consultorias e especialistas do setor previam um mercado na faixa de 1,2 milhão de unidades no final da década de 90. Com a introdução do Uno Mille e, posteriormente, dos carros populares tal meta mostrou-se demasiadamente conservadora, e já em 1997 a indústria comemorava vendas de 1,5 milhão de unidades. Deste total, 857 mil eram carros populares.

Fiat Uno Mille 1990

O desenvolvimento do mercado brasileiro tornou-se mais rápido com a chegada do Mille, veículo que personificava o sonho dos brasileiros: bom, bonito, econômico e barato. E com espaço e conforto adequados para toda a família, além de outros conteúdos como motor transversal, direção retrátil em caso de acidente, pneus radiais, pára-brisas laminado, cinto de segurança de três pontos, apoio de cabeça. O Mille também foi o responsável pela quebra de um importante tabu, quase estigma, no mercado brasileiro, provocado pelo sucesso de seu modelo de quatro portas, configuração até então considerada insegura pelo imaginário popular.


Revolução no mercado consumidor


Com o mesmo design que o consagrado estilista italiano Giorgio Giugiaro dotara o Uno, o Mille tinha, como principal objetivo, agregar novos consumidores ao mercado de veículos zero quilômetro, na época estagnado na faixa de pouco mais de 500 mil unidades/ano. Os estudos da Fiat, e a própria realidade do mercado, demonstravam a necessidade de produzir um automóvel mais acessível – portanto mais barato – para tornar viável o desejo de uma grande massa de consumidores que viviam o seguinte drama: comprar veículos usados com mais de quatro anos de uso ou ficar fora do mercado, a pé.

Fiat Uno Mille 1993

A aposta da Fiat estava certa. Em quatro meses foram vendidos 20 646 Mille, numa verdadeira corrida de clientes até as concessionárias. Era o automóvel mais barato do mercado, pois o IPI, o Imposto sobre Produtos Industrializados, fora reduzido para 20% contra os 33% aplicados sobre outros veículos. Ou seja: o Mille inaugurou uma nova categoria fiscal de veículos, aqueles com motor até 1 mil cm3 de capacidade.

FIat Uno Mille Brio

No ano seguinte, 1991, as vendas triplicaram, atingindo 65.580 unidades, o equivalente a 50% do total de veículos comercializados pela Fiat. O mercado demonstrava que um carro mais barato era exatamente o que o consumidor queria. O incontestável sucesso do Uno Mille provocou fortes reações em todo o mercado, que chegaram à Câmara Setorial Automotiva. A mais forte repercussão foi a decisão, do governo, de reduzir ainda mais os impostos, em 1993, estabelecendo alíquota de IPI de 0,01% e rebaixando o ICMS, o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias, para 12% no caso de veículos dotados de motor de 1 mil cm3 de cilindrada. Estava consolidado o conceito do carro popular.

Fiat Uno Mille Eletronic

E o Mille, naquele ano, dispararia de vez nas vendas, dando consistência ao seu próprio sucesso, com 119 mil unidades. Boa parte dessas vendas já dava ressonância ao lançamento da versão de quatro portas, outra tendência lançada pela Fiat e que, ainda hoje, segue dominando o mercado brasileiro.
Assim, a participação percentual dos populares, somadas todas as marcas, construiu uma história de saltos: 45,9% em 1994, 53,8% em 1995, 56,3% em 1996, 64,1% em 1997, 74,8% em 1998. No ano passado, a presença dos populares atingiu 68,8% do total de veículos vendidos.


A mudança de comportamento


Na época do lançamento do Uno Mille, o automóvel era encarado como verdadeiro sonho de consumo, pois os preços estavam muito distantes da realidade econômico-financeira dos consumidores. A tentativa de criar um carro popular, desprovido de opcionais e de baixo custo, já havia acontecido no passado, no início da década de 60, com os veículos chamados Pé de Boi.

Fiat Uno Mille Eletronic

Mas o interesse dos consumidores foi muito baixo, e o sucesso da iniciativa passou longe do mercado. Anos mais tarde o automóvel do povo sairia de linha por total incompatibilidade com as modernas regras de segurança, tecnologia e com a necessidade de limitar a emissão de poluentes. Não existia sucessor à vista. A alternativa, para os consumidores colocados à margem do mercado pelos preços impraticáveis, era comprar automóveis usados, com três, quatro anos de uso.

Fiat Mille EP

Na época a Fiat Automóveis já atendia ao desejo desta enorme clientela com seus modelos Uno, Prêmio e Elba. Mas a forte incidência de impostos sobre os veículos invalidava a possibilidade da prática de preços atraentes, aqueles que poderiam tornar viável o sonho de consumo. Em 1990, o governo decidiu-se por uma legislação redutora de impostos. Surgiu, assim, a oportunidade de colocar no mercado o Uno Mille, veículo que atendia à qualificação da redução de impostos, à qual se habilitavam apenas veículos dotados de motor de 800 a 1 mil cm3 de cilindrada.

Fiat Mille ELX

O perfil do consumidor do Uno Mille, seus desejos e necessidades, passou a ser estudado detalhadamente pela Fiat Automóveis, e também pela concorrência. As pesquisas realizadas pela Fiat apontam que 71,5% dos consumidores compram o Mille para substituir outro veículo, e que 21,5% fazem a aquisição para que a família disponha de seu segundo carro. Mais importante, no entanto, é observar que mulheres representam 40% deste público consumidor, e que não existe concentração numa só faixa etária: a distribuição é bastante equilibrada.

FIat Mille ELX

As motivações da compra são exatamente as imaginadas pela Fiat, baseadas na sua experiência centenária com veículos pequenos. Preço é fundamental para 55,4% dos consumidores e 33,8% indicam que o fato de ser econômico e consumir pouco combustível é importante na decisão de compra.


Surge o inovador Mille On-line


O sucesso do Uno Mille levou à criação do carro popular e fez multiplicar por três o mercado automobilístico brasileiro. Mas, como sempre acontece no mundo do automóvel em casos como este, tanto sucesso provocou grandes filas nos concessionários e, como decorrência, a eventual cobrança de sobrepreço, valor acima da tabela recomendada pelos fabricantes.

FIat Mille EP

A Fiat Automóveis agiu rapidamente quando surgiu o fenômeno das filas. Criou o Mille On-Line, maneira simples e segura de o cliente encomendar o seu carro com todas as características desejadas – cor, opcionais, número de portas, etc. Tudo de acordo com a tabela de preço sugerida. Sucesso no mercado, o sistema On-Line marca uma nova tendência na venda personalizada de carros e conserva, ainda hoje, o caráter de respeito e flexibilidade no atendimento aos desejos do cliente.

FIat Mille EP

O Mille On-Line foi o primeiro sistema de vendas que interligou as concessionárias à montadora, utilizando moderna tecnologia de informática. Através dos computadores das revendas ligados diretamente com a fábrica, o cliente pode fazer o pedido do seu carro personalizado, escolhendo os opcionais preferidos.


Revolução nos sistemas de produção.


O sucesso do Mille, que teve sucessivas explosões de vendas, só foi possível devido ao moderno sistema de produção implantado pela Fiat. A montadora foi a primeira fabricante brasileira de veículos a desenvolver, na sua unidade de Betim, MG, os modernos conceitos de produção via consórcio modular por meio de seu programa de mineirização, que tinha como meta trazer novos fornecedores de autopeças para Minas Gerais, para as proximidades da fábrica da Fiat.

FIat Mille EP

Com este programa foi introduzido em 1989 o sistema de produção just-in-time, no qual fornecedores de módulos automotivos alimentam a produção em tempo real, de acordo com as necessidades da linha de montagem. Com o novo padrão, racionalizar o sistema produtivo não era, mais, uma preocupação apenas do fabricante de veículos mas, sim, de todos os parceiros, particularmente os fornecedores de autopeças, figuras fundamentais no processo.

FIat Mille EP

Uma das ferramentas utilizadas no processo de mineirização foi adotar alguns parâmetros básicos: muita produtividade aliada ao aumento da qualidade, à redução dos custos por meio da escolha de alguns grandes sistemistas para fornecer módulos completos diretamente na linha de montagem. A redução no número de fornecedores diretos, e a necessidade de estar nas proximidades de Betim, fizeram surgir uma cultura única na produção de automóveis no País, que trouxe resultados impressionantes para a Fiat Automóveis.

FIat Mille Eletronic

A fábrica de Betim, concebida para produzir até 850 unidades diárias, teve uma progressão incrível na sua capacidade instalada a partir de 1991. Em média foram 859 unidades/dia em 1991, 900/dia em 1992, 1 153/dia em 1993, 1 410/dia em 1994, 1 503/dia em 1995, 2 000/dia em 1996 e 2 300/dia em 1997. Fato único na história da indústria automobilística na América Latina, a rapidez das vendas do Mille foi sustentada, e garantida, pelo forte aumento na produção. O recorde é de 1997, quando a fábrica de Betim produziu 619.658 unidades.

FIat Mille Eletronic

A terceirização da montagem de módulos e a instalação de unidades das empresas sistemistas nas proximidades de Betim – algumas foram acomodadas dentro da própria fábrica da Fiat – permitiram altíssimos ganhos de produtividade e impulsionaram, ainda mais, o desenvolvimento industrial do Estado de Minas Gerais.


Mille, o carro inteligente


Quando o Mille foi apresentado ao mercado muita gente se perguntou qual seria o futuro daquele carrinho dotado de motor de 48 cv e 1 mil cm3 de cilindrada apesar de suas linhas desenhadas por Giorgio Giugiaro, um dos mais criativos estilistas italianos. Os diretores da Fiat com participação direta no projeto garantiam que era um dos carros mais inteligentes já planejados pela engenharia automotiva.

FIat Mille 1.0 Flex

Era, no entender de um dos projetistas, o veículo com a mais adequada relação custo-benefício: preço atrativo, muito espaço interno, suficiente para cinco pessoas, espaço para bagagem muito razoável até pela colocação do estepe no compartimento do motor, banco traseiro rebatível, que aumenta significativamente a área para qualquer tipo de carga volumosa, excelente espaço para as pernas também para os passageiros do banco traseiro, impressionante projeto ergonômico, muito econômico em marcha e com baixo custo de manutenção. Mais ainda: não era um veículo do tipo Pé de Boi, tipificado pela absoluta ausência de qualidade e pelo acabamento pobre e mal feito.

FIat Mille 1.0 Flex

No decorrer dos anos o projeto foi sendo aperfeiçoado. Ganhou uma série especial, em 1991, denominada Brio, com carburador de corpo duplo e 54 cv, substituída em 1992 pelo Mille Electronic, que ganharia no ano seguinte a versão de quatro portas. Em 1994 a Fiat ousou ainda mais: lançou o ELX, beneficiado com alguns luxos como ar-condicionado, vidros verdes, rodas de liga leve, trava elétrica das portas, vidros elétricos, e mais uma série de opcionais normalmente disponíveis apenas em carros maiores. A demanda foi grande, mas os consumidores queriam mais novidades. Em 1995 surgiram os primeiros Mille com injeção eletrônica e potência de 58 cv, e no ano seguinte a Fiat colocou no mercado o SX, com opcionais livres.

FIat Mille 1.0 Flex

Com o lançamento do Palio, em 1996, a Fiat adotou nova estratégia mercadológica para o Mille, mantendo-o como o carro brasileiro mais barato e em constante evolução. O investimento em tecnologia do produto permitiu, por exemplo, o aumento dos intervalos das trocas de óleo e o período das revisões, que foram estendidos de 10.000 para 20.000 km visando à redução dos custos de manutenção.


A preferência do consumidor, dez anos depois, é fortemente percebida. Com o lançamento do Mille Smart, em abril deste ano, a participação do modelo no segmento de carros 1.0 passou de 13% para 16%. Para colocar a nova versão no mercado, a Fiat lançou o “Mille na mão”, onde o consumidor recebe, gratuitamente, licenciamento (taxa de emplacamento, despesa com despachante, IPVA e seguro obrigatório), tanque cheio e seguro total por seis meses.


E em agosto de 2000? O Mille vai muito bem, obrigado. Promete romper neste ano a casa das 80 mil unidades vendidas. Sem perder a identidade, o carro de melhor custo-benefício do país promete novas evoluções, continuando a corresponder às expectativas do mercado, se adequando às diversas preferências do consumidor brasileiro.

VOLUME ANO A ANO (UNIDADES)

ANOVENDAS BRASILPRODUÇÃO
19841289919804
19853658331044
19863532434822
19873595437243
19883856974502
19894416884729
199060725104981
1991100559101574
19929469992295
1993153926151172
1994224023234340
1995247940253233
1996203839204300
19979045688328
19987512261353
19997159277263
2000100431109981
2001112655123764
20029504698376
20039564994838
200492364106927
2005119923139726
2006114575128393
2007130165147555
2008141016156393
2009167679179774
2010231716250247
2011272682308613
2012256185260818
2013182205200948

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