Golf GTI: o abuso do direito de ser bonito

As décadas de 80 e 90 foram pródigas na indústria automotiva brasileira quando o assunto é "versões esportivas de hatchs compactos".

São dessa época dois dos mais memoráveis e icônicos pocket rockets brasileiros: o VW Gol GT 1.8 e o Ford Escort XR-3 – versões esportivas dos respectivos modelos convencionais, que traziam, sobretudo, alterações mecânicas que justificam a aparência.

O Gol GT vinha com o motor 1.8 do Santana, com comando de válvulas usado no motor do Golf GTI alemão, enquanto o Escort XR-3 adotava um motor 1.6 CHT com dupla carburação, proporcionando um ganho de potência de 10 cavalos em relação às versões convencionais.

Mas, além do aspecto mecânico, era justamente na estética que os modelos esportivos se diferenciavam. Começava pelas cores: tanto Gol GT quanto XR3 estavam disponíveis, no lançamento, apenas em vermelho (exclusivo), prata e preto, sendo que a maior parte dos modelos vendidos era vermelho mesmo.

Além das cores chamativas, havia aerofólios e detalhes aerodinâmicos em preto, rodas exclusivas, pneus de perfil baixo e um interior com bancos e volante esportivos, além da decoração diferenciada. Deixavam claro, por dentro e por fora, com o quê você estava lidando.

No final dos anos 90, com a chegada do Golf de 4º geração no Brasil, chegou também o clássico  Golf GTI. Entretanto, se o Golf MKIV foi revolucionário em muitos aspectos, sua versão esportiva era o anti-climax, não em termos de mecânica, mas da estética: não havia qualquer diferencial externo do Golf GTI para o Comfortline.

O Golf GTI porém, não era um esportivo “poser”. Ao contrário: não alterava nada na aparência, mas o motor era um 1.8 Turbo de 150 cavalos, que, posteriormente teve sua potência aumentada para 180 cavalos, chegando a 193 na geração 4,5. Mas faltava, sim, o diferencial estético.

Na Europa, a VW corrigiu essa “falha” com as versões GTI dos Golf´s de 5º e 6º geração - bem diferenciados em relação aos modelos convencionais. Entretanto, como é amplamente conhecido, o Brasil não recebeu esses modelos do Golf.

Mas, agora, com o Golf GTI de 7º geração sendo vendido por aqui, a versão esportiva traz de volta toda a alma do que deve ser um hatch esportivo, especialmente nessa cor vermelha, do modelo das fotos. O espírito estético e mecânico que inspirou o Gol GT e o Escort XR-3 está de volta.

É verdade que a decoração não é abusiva – jamais será em um VW. Mas ele deixa claro que é um Golf com más, péssimas, intenções! Desde a frente, com a grade do radiador em formato de colmeia, passando pelos frisos vermelhos nos faróis, tudo é ostensivamente esportivo.

Na lateral as roda diferenciadas, assim como o pequeno emblema no para-lama dianteiro deixam claro que se trata do mito.

E, na traseira, as lanternas fumês, escapamento duplo e um visual largo e rebaixado (o Golf GTI tem a suspensão 1,5 cm mais baixa que o Highline) reforçam o visual "do mal". Ao ver um modelo desse, vermelho, quem gosta de carros esportivos não tem como não falar (ou pensar): "P#$$ Q$# O P@#%$! Carro lindo do C@%$#@!! P%$$#!"

E o visual externo tem correspondência com interior: em couro preto, com detalhes em LED´s em vermelho e em fibra de carbono, novo volante e iluminação diferenciada caracterizam o GTI.



Conclusão

O Golf GTI de 7º geração já faz parte, desde já, da galeria de melhores exemplares do Golf de todos os tempos: é belo, sem ser apelativo. Um monumento ao bom gosto e à sofisticação. Podre de chique do jeito que é, nem precisava ser tão rápido, veloz, seguro, confortável e prazeroso de ser dirigido. Mas é. E nem o seguro é caro.